terça-feira, 1 de fevereiro de 2005 2 comentários

Conversando com o medo

O trecho era Marabá-Carajás. Na programação, 20 minutos de vôo num bimotor que levava 10 pessoas, incluindo os 2 pilotos. Fiquei lendo uma revista, mas como ela não prendia a atenção,resolvi olhar a paisagem. Minutos depois, vi os mesmos bois parainhos lá embaixo. Devia ser imaginação. Quando passamos pela sexta vez e eu via mesma cena, tive a certeza: estávamos dando longas voltas entre Marabá e Carajás. Não há porta separando a gente da tripulação e eu comecei a perguntar: moço, o que tá havendo? Sem inquietação. Mas quando ouvi eles dizendo que estavam quase sem combustível e pediam pelo rádio a informação de enquanto tempo o tempo abriria, comecei a balançar.
O medo se grudou em mim no minúsculo avião e eu só respirei fundo, olhei pra trás, mas ninguém parecia perceber nada. Bati no vidro tentando chamar a atenção de uma colega, mas acho que vários medos já estavam se apossando dos passageiros.
Rezei e entreguei tudo na mão de Deus, que as coisas só acontecem com a gente se Ele quiser. Pensei nos meus 3 filhotes, todos grandões, mas sempre filhotes. Na minha irmã queria. No meu pai, nos amigos. Nas tantas lutas travadas.
Meu coração se aliviou. O medo respirava no meu cangote, mas eu nem tava mais no avião. Minha alma tava longe.
Olhei as nuvens densas que nos impediam de ver a serra dos Carajás e quando pisquei, vi o sol invadindo as nuvens e mostrando a serra. Foram uns 2 minutos, mas o suficiente pro avião embicar caçando a pista.
Em terra firme, 1 hora e 40 minutos depois de sairmos de Marabá, dei graças a Deus. Um gringo que iria pra Oriximiná, desistiu de continuar no avião, contratou um carro. Queria a certeza do chão memsmo que mais demorada.
Nós, com todos os riscos à vista, continuaríamos nas asas de passarinho, como diz uma colega do trabalho.
domingo, 30 de janeiro de 2005 3 comentários

Quase 18 anos

Essa abominável violência que o Maiorana cometeu contra o Lúcio neste primeiro mês do ano - e que toda gente de bem repudiou - me fez voltar ao tempo em que o Jornal Pessoal nasceu. E já incomodando. Desde o primeiro número. Eu tava grávida, esperando o Adriano. Paulo Fontelles, o homem que sorria, no dizer de Walter Rodrigues, foi barbaramente assassinado. Minha barrigona seguiu aquele cortejo, em junho de 1987. Pari Adriano em julho e Lúcio pariu o Jornal Pessoal em setembro.
Nesses quase 18 anos, o JP tem atravessado turbulências, provocado maremotos. Servindo à verdade. Às vezes, amargurado, pois que não é fácil ser farol quando a preferência parece ser pelo jogo das sombras. Às vezes, poucas, vitorioso.
JP está chegando, aos trancos e barrancos, na maioridade civil. Adriano, também. Hoje eu consegui apresentar o Lúcio ao meu caçula, numa esquina do Reduto.
De uma outra esquina, alguém gritava: Lúcio, conte com a minha solidariedade! Na mão, eu carregava o JP Extra de janeiro contando a ignominiosa violência sofrida pelo Lúcio pelo chefão das ORM.

 
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