sábado, 14 de fevereiro de 2009

Da ponta dos dedos, o sustento. Com arte

Com arte e doçura, Marta encara a crise, de mesa em mesa noas bares de Brasília. Levei o ladrilho pra minha casa, em Belém.

A conversa rolava solta e variada. De vôos aéreos, a fundos de pensão, quiropraxia, comidas vegetariana e unibiótica, sindicalismo, a crise e o Brasil, piadas prontas ou criadas. Mesa de bar com gente legal é sempre assim, gostosa nenhuma conversa termina e no meio de cada uma, um riso, uma brincadeira, um sarro de alguém. Mesa no ponto pro relaxamento depois de um dia de tensões, reuniões.

Bem cara de Brasília isso de reunião e tensões. Local bom pra aliviar Mercado Municipal, irmão mais novo e bem menor do Mercado paulista, igualmente com direito a sandubas gigantes de mortadela, bacalhau e chope na pressão. Na roda de conversa e carinho, eu, meu amigo-irmão Castagna Maia, a presidenta do Sindicato dos Aeronautas, Graziella e a presidenta da Associação dos Quiropraxistas, que tentava, via escritório de advocacia do amigo, regulamentar a profissão e espanar os vendilhões desse templo.

Marta chegou quieta, linda e negra com sua barriga de quase 6 meses de gravidez. Uma menina, ela espera dessa vez. Com 25 anos, já tem dois meninos e que ta na barriga também veio assim, sem planejamento, mas ela tá feliz. Sustenta a família com a ponta dos dedos, fazendo arte em ladrilho, com tinta a óleo. Todas as noites, nos bares e em mesas receptivas.

Carrega os ladrilhos e os potinhos de tinta. Pergunta se aceitamos ver a arte dela. Topamos.

Com a ponta dos dedos, Marta pinta rapidamente um ladrilho. Faz uma paisagem de árvores, sombra no rio, sol, colorido. Pinta em pé e vai respondendo a um caminhão de perguntas. Ganha em média 2.500,00 reais trabalhando todas as noites. Mais do que bancário, lembra nosso advogado. Quando a menina nascer, vai ter uns dias de resguardo e depois volta ao trampo. Marta gosta do que faz, de mesa em mesa, em bares já conhecidos e onde tem tränsito. Cada ladrilho pintado custa 20 contos e demora 3 dias pra secar.

Ela assina orgulhosa o nome na tinta fresca. Marta. Linda e grávida, batalhadora, nem aí pra crise.

A crise, indago... Ela ri e continua pintando.

Por enquanto, tá dando pra resolver com as pontas dos dedos.

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