quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009 0 comentários

PAULO VOLTA PRA CASA



No visor do celular, o chamado. Vinha da ContrafCUT, de São Paulo.Atendi. Era a telefonista. Vera? Tem uma pessoa aqui na Contraf que quer falar com você. Era um ex-bancário do BASA chamado Paulo. Aliás, de uma terceirizada do BASA, área de informática. Quando foi demitido, pegou a graninha da rescisão, comprou uma passagem de ônibus e se mandou para São Paulo, em busca de um emprego.

O emprego não pintou, o dinheiro acabou e ele virou morador de rua, catador de restos há mais de mês. Queria voltar pra Belém e queria uma passagem. Longe de casa mais de 3 mil e 500 quilômetros.

Me contou como chegou na Contraf. Estava andando quando enxergou a sede da Contraf. Lembrou das greves e daquele símbolo, daquela marca. Lembrou do carro de som na porta do BASA e dos dirigentes falando sem parar, berrando no microfone. Já tinha visto aquela marca.

Não contou conversa. Entrou, contou a história de seu insucesso e pediu pra falar com o atual presidente do Sindicato dos Bancários do Pará. Não conseguiu, então pediu pra ligarem pra mim. Lembrava de mim na porta do BASA, do tempo em que presidi o Sindicaro.

Ouvi a história dele angustiada. Peguei o endereço da família em Icoaraci-Belém. Sem telefone fixo, sem celular. Longe. Mais longe estava ele.

Liguei pra Cut Nacional e pedi a ele que fosse até lá. Na Contraf, alguém arranjou um vale para o metrô e lá se foi ele.

De tarde, de novo o celular mostrava chamado da Contrafcut. Era o rapaz. Conseguira uma passagem de ônibus para voltar a Belém. Para daqui a dois dias. Queria 50 reais para passar os 2 dias e também para encarar os 3 dias da volta pra casa. Uma conversa rápida com Daise e 100 contos foram colocados na mão dele.

Hoje é terça, ele sai de Sampa na quinta, chega em Belém domingo. Nenhum tostão no bolso, muita história doída pra contar.

E dessa história eu guardo uma convicção: vale a pena lutar pro mundo ser um pouco melhor, a partir de pequenas ações que podem salvar vidas. E isso é possível no sindicalismo de esquerda, com homens e mulheres de boa vontade. Ganhei o dia e acredito que assim se sentiram as companheiras e companheiros da CUT e ContrafCUT que ajudaram um companheiro a retornar pra casa.



Paulo volta a Belém com o sonho do emprego esfarelado. Mas conseguir voltar é o maior sonho do ex-bancário. Pra ele, encharcado de desesperança, brilha o dito popular: "Quem vai pra casa não se molha".
sábado, 14 de fevereiro de 2009 0 comentários

Da ponta dos dedos, o sustento. Com arte

Com arte e doçura, Marta encara a crise, de mesa em mesa noas bares de Brasília. Levei o ladrilho pra minha casa, em Belém.

A conversa rolava solta e variada. De vôos aéreos, a fundos de pensão, quiropraxia, comidas vegetariana e unibiótica, sindicalismo, a crise e o Brasil, piadas prontas ou criadas. Mesa de bar com gente legal é sempre assim, gostosa nenhuma conversa termina e no meio de cada uma, um riso, uma brincadeira, um sarro de alguém. Mesa no ponto pro relaxamento depois de um dia de tensões, reuniões.

Bem cara de Brasília isso de reunião e tensões. Local bom pra aliviar Mercado Municipal, irmão mais novo e bem menor do Mercado paulista, igualmente com direito a sandubas gigantes de mortadela, bacalhau e chope na pressão. Na roda de conversa e carinho, eu, meu amigo-irmão Castagna Maia, a presidenta do Sindicato dos Aeronautas, Graziella e a presidenta da Associação dos Quiropraxistas, que tentava, via escritório de advocacia do amigo, regulamentar a profissão e espanar os vendilhões desse templo.

Marta chegou quieta, linda e negra com sua barriga de quase 6 meses de gravidez. Uma menina, ela espera dessa vez. Com 25 anos, já tem dois meninos e que ta na barriga também veio assim, sem planejamento, mas ela tá feliz. Sustenta a família com a ponta dos dedos, fazendo arte em ladrilho, com tinta a óleo. Todas as noites, nos bares e em mesas receptivas.

Carrega os ladrilhos e os potinhos de tinta. Pergunta se aceitamos ver a arte dela. Topamos.

Com a ponta dos dedos, Marta pinta rapidamente um ladrilho. Faz uma paisagem de árvores, sombra no rio, sol, colorido. Pinta em pé e vai respondendo a um caminhão de perguntas. Ganha em média 2.500,00 reais trabalhando todas as noites. Mais do que bancário, lembra nosso advogado. Quando a menina nascer, vai ter uns dias de resguardo e depois volta ao trampo. Marta gosta do que faz, de mesa em mesa, em bares já conhecidos e onde tem tränsito. Cada ladrilho pintado custa 20 contos e demora 3 dias pra secar.

Ela assina orgulhosa o nome na tinta fresca. Marta. Linda e grávida, batalhadora, nem aí pra crise.

A crise, indago... Ela ri e continua pintando.

Por enquanto, tá dando pra resolver com as pontas dos dedos.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009 0 comentários

Dan Dan descobre o Amor

Dandan é meu menino de 6 anos, quase 7. Sobrinho, afilhado, meio filho, meio neto, meio muita coisa querida.

Dandan é uma centelha de luz, passeando no meio da gente, olhinhos brilhndo sempre, irradiando vida.

Tanta vida se derramando, ia acabar triscando em alguém.

Na nova escola, em Belém, Dandan conheceu o amor, um amor diferente daquele pela mãe, pai, avó,tias, Bia, Caio, os irmãos. Dandan se apaixonou.

Cheio de atitude, o amor foi logo guiando ele pra fazer um cartão lindo pra amada. Cartão cheio de corações, colas de várias cores, coisa gigantona, do tamanho do amor de Dandan pela sua menina.

Enrolado na timidez, criou coragem e entregou o cartão. A menina, ah! meninas, apenas olhou, riu e deu um beijo na bochecha dele.

O beijo grudou e ele, estátua, parado na frente dela até que bateu a campa. Hora de voltar pra casa, pisando nas nuvens, beijo guardado na bochecha e no coração.

Antes do jantar, recusou o banho. Teve o primeiro receio de amor: que a água levasse o calor do beijo que tava entranhado na pele, na vida dele.

Naquela noite, riu muito e dormiu mais leve do que nunca. Estava amando. E com beijo!
 
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