segunda-feira, 23 de maio de 2011

A fala brasileira e popular em dois momentos

É a poesia que contesta as elites, juízas da fala brasileira e popular :


"Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada"... (No blog do Nassif, enviado por Cafu).


E a professora Amanda Gurgel, retrata o Brasil na linguagem que a classe trabalhadora entende tão bem:


A fala da professora recebeu este comentário da jornalista Ana Célia Pinheiro, em seu Perereca da Vizinha:

É imperdível o depoimento da professora Amanda Gurgel.

Um retrato não só do Rio Grande do Norte, mas, do Brasil inteiro.

Até custa a crer que, num País que se imagina em desenvolvimento, os professores ganhem essa mixaria. E que tenham de quase se matar de tanto trabalhar para ganhar essa mixaria.

Não, não são os professores os “heróis” da redenção deste país, no qual apenas os trabalhadores – e apenas eles – são chamados a dar “a sua cota de sacrifício”.

Nem os professores, nem os policiais, nem os médicos, nem tantas outras categorias essenciais ao serviço público, no qual o amor se vê transformado em calvário.

E um calvário do qual sequer resulta um Paraíso. Mas, apenas e tão somente, a multiplicação da dor, por gerações e gerações.

Não há como exigir mais sacrifícios daqueles cujo sangue já tem tão pouca tinta, para usar a bela imagem do grande poeta João Cabral de Melo Neto.

Não há mais como sustentar essa imagem romântica dos “heróis” de uma “redenção” que nunca chegará, enquanto subsistirem as desigualdades e parasitismos que afrontam os cidadãos, de Norte a Sul.  

Que futuro a um país onde um professor – e na capital de um estado – recebe R$ 930,00 por mês, ao passo que um deputado ou senador, só de salário, recebe mais de R$ 26 mil?

E, vejam só: além desse salário extraordinário, as Vossas Excelências, ainda torram milhões de reais em tíquetes-alimentação, quentinhas, cestas básicas, telefone, passagens aéreas, combustível, diárias, assessores, ao passo que, nas salas de aula, falta até mesmo giz!

Quantos professores, ou médicos ou policiais, seria possível remunerar um pouco melhor, só com os ganhos de um único parlamentar, que, muitas vezes, passa quatro, oito, doze anos sem apresentar um único projeto que preste, apenas a financiar, com dinheiro público, a própria reeleição?

Como permitir a continuidade de tais disparates e, ao mesmo tempo, acreditar na possibilidade de um Brasil mais justo?

Que país do mundo, democrático, desenvolvido, civilizado, tem essa relação tão perversa entre a remuneração de um servidor público e os ganhos de um parlamentar?

De que Democracia estamos a falar, quando milhões têm de trabalhar para sustentar a “Corte” de uns poucos?

E uma Corte tão imoral, mas tão imoral, que é impossível olhar para ela e não se lembrar da família Bórgia.

Não, as Vossas Excelências não podem continuar a viver nesse “Versalhes imaginário”.

Têm de compreender que este País pertence, em verdade, a milhões de Josés, Marias e Amandas que, todo santo dia, fazem assim, ó, com o suor do rosto, para sobreviver.

Têm é de se mancar com essa orgia, com essa gastança, que promovem à custa do suado dinheirinho de todos.

Eis aqui o depoimento de Amanda, cidadã e servidora pública deste senzalão chamado Brasil:

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