quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O olho de vidro dos banqueiros tem mais humanidade que o olho normal. Então, é mais que justa e necessária a greve dos bancários!


O blog anda meio largado, tamanha é minha lida com as lutas cotidianas e gerais e agora mais a greve no Banpará e dos bancários em geral. Greve que só acontece porque o lado com mais poder nunca quer repartir o pão. E em busca de pão, a categoria vai à luta com uma garra incomum, com resistência, otimismo, esperança, energia até gerar a cesta das vitórias e conquistas.

Conversávamos sobre isso hoje, eu e meu querido amigo Victor Neiva e aí oveio Castagna Maia entrou na roda, pois foi ele que nos contou a historinha que conto aí embaixo e que ilustra bem o que é lutar em campo oposto ao dos banqueiros.

Numa conferência da banca apareceu um banqueiro que apostou 1 milhão para quem adivinhasse qual o olho dele era de vidro. Um após outro, todos perderam a aposta. Do nada, apareceu um sujeito que matou a charada e  indicou qual o olho de vidro. Pasmo, o banqueiro perguntou como ele tinha descoberto. 

E ele: - quando olhei nos seus olhos, percebi que no olho de vidro tinha mais humanidade que no outro.
No Banpará, a greve forte e que já está no 17º dia.
Enfrentar hoje a banca financeira do país é necessário e urgente, assim como a banca da terra e a dos barões da mídia.

No caso da banca financeira, é o setor que mais lucra e nos bancos privados a demissão campeia, assim como o assédio moral, metas abusivas, insegurança, péssimas condições de trabalho e salário pequeno. 

Hoje no terceiro greve dia de greve, a categoria bancária já mostrou que não tá pra brincadeira: tá parando o Brasil de norte a sul e num ritmo frenético até forçar uma proposta decente e não apenas os 0,64% de aumento real que os banqueiros querem dar.

P.S - E o julgamento de exceção que o STF está fazendo? Tá passando da hora de botar a CPI da Privataria Tucana pra andar...

Até outro dia. Deixo com vocês o belíssimo artigo do Sakamoto sobre a greve dos bancários. 

Greve dos bancários: os discursos que demonizam a luta por direitos



Greve é ruim para todo mundo: é ruim para o bancário, é ruim para o banco, é ruim para a população, que já foi muito incomodada pela onda de greves dos funcionários públicos e não merece ser mais incomodada com uma paralisação dos bancários.”
A declaração acima é de Magnus Ribas Apostólico, diretor de Relações do Trabalho da Fenaban, braço sindical da Federação Brasileiros de Bancos responsável pelas questões de disputas trabalhistas.
Posso reescrever o parágrafo com a visão do outro lado?
Greve é ruim para todo mundo: é ruim para o bancário, é ruim para o banco, é ruim para a população, que já foi muito incomodada pela incapacidade do governo federal em negociar com os funcionários públicos em greve e não merece ser mais incomodada com uma negativa dos banqueiros em dividir melhor os lucros e garantir condições de trabalho.”
Quando negociações trabalhistas chegam a um limite e uma greve é deflagrada, começa uma guerra de discursos, o que é esperado. E interessante. Afinal de contas, aprendemos novas formas de moldar a língua portuguesa para servir aos nossos interesses.
Gostaria de ver como profissionais cuja matéria-prima é o discurso se comportariam em greve geral. Como já disse aqui um rosário de vezes, tenho certa inveja das categorias de trabalhadores que se enxergam como tais e se unem para reivindicar e lutar pelos seus direitos. Sim, porque nós, jornalistas, como todos sabem, não somos trabalhadores, estamos acima de toda essa coisa mundana. Salário? Para quê? Uma vez que somos seres iluminados, nada mais lógico do que vivermos de luz…
No caso de greves envolvendo o sistema financeiro, dado os anúncios de lucros bilionários divulgados a torto e a direito, essa guerra de discursos tende a colocar banqueiros contra a parede. Daí a necessidade de adotar uma postura mais agressiva, como jogar a população contra os grevistas a exemplo do que fez o diretor da Fenaban.
A evolução histórica do nosso querido capitalismo mostra que não importa o que aconteça, os donos do sistema financeiros sempre ganham. A indústria pode virar fumaça, a agricultura comer grama pela raiz e o setor de serviços fechar as portas, mas os bancos sobrevivem. Sendo salvos com recursos públicos, se preciso. Afinal de contas, os lucros deles é privado, mas o prejuízo é sempre socializado.
De acordo com o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, a proposta patronal de 0,58% de aumento real (descontada a inflação) foi considerada insuficiente. A demanda é por 5%, além de um implemento do plano de cargos e salários, mais segurança nas agências e maior participação nos lucros. Em nota, Juvandia Moreira, presidente do sindicato, afirma que nos “balanços dos sete maiores bancos do país, entre o primeiro semestre de 2011 e o de 2012, os ativos cresceram em média 15,56%, as operações de crédito subiram 18,63%, o patrimônio líquido aumentou 12,65%”.
Já a Fenaban afirma que a proposta global corrigirá salários, pisos, benefícios. Também diz que estão previstos reajustes do auxílio refeição, da cesta alimentação e do auxílio creche mensal. Promete que o valor da Participação nos Lucros e Resultados pode ultrapassar o equivalente a três salários de um caixa de banco.
Esperemos que a paralisação dure o menos possível e que um acordo seja logo alcançado. Enquanto isso, um pouco de paciência. Muita gente deve estar pensando “vagabundo que faz greve deveria ser demitido”, esquecendo que – dessa forma – joga pela janela uma das mais importantes formas de pressão: negar-se a gerar riqueza para a empresa enquanto seu contrato de compra e venda da força de trabalho não for rediscutido.
Sindicatos não são perfeitos, longe disso. Assim como ocorrem em outras instituições, eles possuem atores que resolvem voltar-se para os próprios umbigos e tornar a busca pelo poder mais importante que os objetivos para o qual foram escolhidos. Estamos cheios de exemplos disso. Contudo, graças à organização e pressão dos trabalhadores, importantes conquistas foram obtidas para civilizar minimamente as regras do jogo – não trabalhar até a exaustão, descansar de forma remunerada, ter salários (menos in)justos, garantir proteção contra a exploração infantil. Direitos estes que, mesmo incompletos, são chamados por alguns de “gargalos do crescimento”.
Apoio os professores federais, funcionários públicos, controladores de vôo, cobradores e motoristas de ônibus, bancários, eletricitários, metalúrgicos, metroviários, garis, residentes médicos. Apoio o santo direito de se conscientizarem, reconhecerem-se nos problemas, dizer não à exploração e entrar em greve até que a sociedade pressione e os patrões escutem. Mesmo que a manifestação deles torne minha vida um absurdo.
E torço para que você não consuma bovinamente discursos que demonizam greves. Porque, se assim for, no dia em que precisar que a sociedade entenda a sua reivindicação, pode perceber que está sozinho, gritando ao vento.
A música que mais toca nos piquetes da greve no Pará


4 comentários:

Florentino disse...

Que maravilha de comentário, concordo a torto e a direito, encaminhei para os colegas da minha agência que não grevaram e que exatamente, nessa hora, devem estar contando os milhares (leia isso mesmo, milhares) de envelopes de depósitos por dia, trabalho que deveria ser feito por gerentes de carteira e não "Orelhas Secas" codinome Escriturário.

Victor Mendonça Neiva disse...

Grande Verinha,
Que bom que compartilhou nossa conversa em que dividimos os mesmos anseios contra estes malditos barões que são, de fato, o freio de mão puxado do Brasil. Sem eles, teríamos, após Vargas e JK, as reformas de base do Jango, ou a posse ainda em 1989 de Lula, sem passarmos pela tenebrosa Ditadura.
Abraço,

Guerreiro disse...

Partidos divulgam nota em defesa do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva

O PT, PSB, PMDB, PCdoB, PDT e PRB, representados pelos seus presidentes nacionais, repudiam de forma veemente a ação de dirigentes do PSDB, DEM e PPS que, em nota, tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Valendo-se de fantasiosa matéria veiculada pela Revista Veja, pretendem transformar em verdade o amontoado de invencionices colecionado a partir de fontes sem identificação.
As forças conservadoras revelam-se dispostas a qualquer aventura. Não hesitam em recorrer a práticas golpistas, à calúnia e à difamação, à denúncia sem prova.
O gesto é fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro. Impotentes, tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que seus interesses são contrariados.
Assim foi em 1954, quando inventaram um “mar de lama” para afastar Getúlio Vargas. Assim foi em 1964, quando derrubaram Jango para levar o País a 21 anos de ditadura. O que querem agora é barrar e reverter o processo de mudanças iniciado por Lula, que colocou o Brasil na rota do desenvolvimento com distribuição de renda, incorporando à cidadania milhões de brasileiros marginalizados, e buscou inserção soberana na cena global, após anos de submissão a interesses externos.
Os partidos da oposição tentam apenas confundir a opinião pública. Quando pressionam a mais alta Corte do País, o STF, estão preocupados em fazer da ação penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula .
A mesquinharia será, mais uma vez, rejeitada pelo povo.
Rui Falcão, PT
Eduardo Campos, PSB
Valdir Raupp, PMDB
Renato Rabelo, PCdoB
Carlos Lupi, PDT
Marcos Pereira, PRB.

Brasília, 20 de setembro de 2012.

Guilherme disse...

Excelente artigo que nos coloca diante de nossa consciência como cidadão em permanente busca por um mundo melhor e socialmente mais justo. Na luta, sempre!

 
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