Chegamos ao 1º domingo de 2021, 3 de
janeiro, no calendário deixando pra trás 2020, um ano pandêmico, no qual quase 200 mil
famílias brasileiras choraram a perda, para a Covid.19, de seus amores, afetos e histórias.
Um ano dialético, de
intenso aprendizado, em que a corda bamba foi só o ponto de partida. Ano em que a
ciência se mostrou indispensável, correu com as vacinas e que profissionais de
saúde e o velho e bom SUS salvaram milhares de vidas. Ano em que categoria bancária se mostrou essencial para
atender a população, sob imensos riscos, assim como transporte, entregadores de
aplicativos, supermercados farmácias, dentre outros. Ano em que, como
sindicalista, vivi grande parte por aplicativos, fiz trocentas reuniões, ajudando
a construir acordos coletivos para a categoria bancária no Pará. E que fizemos
uma eleição nos bancários do Pará por app, com duas chapas e vencendo
largamente! Que sobrevivemos!
Um ano de sobressaltos pois, não bastasse
o coronavírus que virou de ponta cabeça nossas vidas e rotinas, termos à frente
do governo brasileiro, um insensível que debocha da letalidade do vírus e zomba
da dor pessoas. E com este governo federal atuando para atrapalhar as
possibilidades de cura, vacina. Iniciamos este 2021 sem seringas e agulhas e
também sem a tão essencial prorrogação do auxílio emergencial, única renda de
mais de 60 milhões de famílias brasileiras!
Com zero vacina e zero auxílio, 2020
se foi, mas continuam os impactos desse ano tormentoso.
Como atravessar 2021 o ano que está chegando com toda a carga de 2020?
Com a disposição de resistência tecida e
aumentada em 2020, tanto a resistência individual, como a coletiva. Tendo solidariedade e sororidade como princípios de vida e como bússola e estandarte o verbo esperançar, ensinado pelo mestre Paulo
Freire:
“ Esperançar é levar adiante
Esperançar é juntar-se com outros
Para fazer de
outro modo...”.
Então, que seja
bem chegado 2021!
P.S.:
O texto a
seguir é do meu filho, Sílvio, no face dele, em 31.dez.20:
Quem imaginava que há doze meses, numa cidade inimaginável da China,
Wuhan, surgiria um novo tipo de gripe, fora de controle, de difícil tratamento,
que levou tantos milhares de vidas embora precocemente nesse ano; quem
imaginava que isso se espalharia por todo o mundo? Que as capitais mais
cobiçadas pelo turismo na Europa fechariam as portas a imigrantes, que as
pessoas sucumbiriam sem que houvesse um tratamento eficaz contra o vírus?
Provavelmente, quase ninguém. Me sinto pouco à vontade de escrever sobre as
perdas, a dor das famílias que não sabiam se aquele parente, amigo ou amado
retornaria do hospital.
Nesse ano eu vi todo tipo de aberração, como um presidente ridicularizar
a doença como uma gripezinha, que usar máscara era coisa de 'boiola' (sic!),
que o brasileiro tinha que deixar de ser maricas. Vi o Brasil não iniciar os
procedimentos para vacinação, ficando atrás de outros países latinos, como
Argentina e México.
Vi o absurdo de criarem desconfianças com essa ou aquela vacina,
simplesmente porque foram criadas na China ou na Rússia, numa xenofobia direcionada
a dois dos maiores parceiros econômicos do Brasil. Vi isso e muitas outras
coisas que não deveriam existir num País democrático e nem em nenhum outro.
Eu vi um homem negro ser assassinado por um policial americano, por
asfixia, com o joelho no pescoço; e um brasileiro ser assassinado de forma
parecida, por seguranças do Carrefour.
Vi transformarem o auxílio emergencial numa crescente volta da inflação,
desenfreada, no ponto mais crucial, que é a alimentação. Tudo mais caro, a cada
ida no supermercado, o dinheiro valendo menos, já que sempre tem reajuste nos
preços, quase semanalmente.
Muita, mas muita coisa lamentável aconteceu em 2020.
Mas também vi surgirem heróis que sempre estiveram presentes e que nunca
haviam sido reconhecidos. Vi médicos receberem o parabéns publicamente, nos
prédios lotados de pessoas com medo de sair às ruas; vi, pela primeira vez,
pessoas até então não valorizadas no sistema de saúde sendo reconhecidos como
heróis, como os enfermeiros, técnicos, auxiliares e atendentes.
Tenho o prazer e sorte de conviver com uma enfermeira há quase 15 anos e
sei como foi árdua a luta, de como foi difícil de vê-la sair pra trabalhar
durante o auge da pandemia, sem saber quando chegaria nossa vez de contrair o
vírus, que nunca chegou em casa, com a Graça de Deus.
Vi bancários trabalhando dez, doze horas por dia, também aos sábados,
pra dar conta das filas, se arriscando a contrair o vírus, mas com determinação
e coragem. Com compromisso não apenas aos seus empregos, mas com a população
mais necessitada. Porque é na crise que surgem os verdadeiros heróis. Talvez
agora o brasileiro compreenda que herói não é o participante do BBB, nem esse
ou aquele cantor, tampouco um jogador de futebol. Podem ser craques, estrelas,
feras na bola, mas pra ser herói é preciso um pouco mais, é preciso doação, sem
esperar nada em troca, é preciso coragem e, acima de tudo, solidariedade.
Esse ano de 2020 foi de crise, de dificuldades pra muita gente, um ano
de dor pra muitas famílias; mas também um ano de resistência, que serviu pra
desmascarar muita gente pequena.
Meu desejo pra 2021?
Que seja um ano de esperança em dias melhores.
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