O texto a seguir é do meu filho, Sílvio, no face dele, em 31.dez.20:
Nesse ano eu vi todo tipo de aberração, como um presidente ridicularizar a doença como uma gripezinha, que usar máscara era coisa de 'boiola' (sic!), que o brasileiro tinha que deixar de ser maricas. Vi o Brasil não iniciar os procedimentos para vacinação, ficando atrás de outros países latinos, como Argentina e México.
Vi o absurdo de criarem desconfianças com essa ou aquela vacina, simplesmente porque foram criadas na China ou na Rússia, numa xenofobia direcionada a dois dos maiores parceiros econômicos do Brasil. Vi isso e muitas outras coisas que não deveriam existir num País democrático e nem em nenhum outro.
Eu vi um homem negro ser assassinado por um policial americano, por asfixia, com o joelho no pescoço; e um brasileiro ser assassinado de forma parecida, por seguranças do Carrefour.
Vi transformarem o auxílio emergencial numa crescente volta da inflação, desenfreada, no ponto mais crucial, que é a alimentação. Tudo mais caro, a cada ida no supermercado, o dinheiro valendo menos, já que sempre tem reajuste nos preços, quase semanalmente.
Muita, mas muita coisa lamentável aconteceu em 2020.
Mas também vi surgirem heróis que sempre estiveram presentes e que nunca haviam sido reconhecidos. Vi médicos receberem o parabéns publicamente, nos prédios lotados de pessoas com medo de sair às ruas; vi, pela primeira vez, pessoas até então não valorizadas no sistema de saúde sendo reconhecidos como heróis, como os enfermeiros, técnicos, auxiliares e atendentes.
Tenho o prazer e sorte de conviver com uma enfermeira há quase 15 anos e sei como foi árdua a luta, de como foi difícil de vê-la sair pra trabalhar durante o auge da pandemia, sem saber quando chegaria nossa vez de contrair o vírus, que nunca chegou em casa, com a Graça de Deus.
Vi bancários trabalhando dez, doze horas por dia, também aos sábados, pra dar conta das filas, se arriscando a contrair o vírus, mas com determinação e coragem. Com compromisso não apenas aos seus empregos, mas com a população mais necessitada. Porque é na crise que surgem os verdadeiros heróis. Talvez agora o brasileiro compreenda que herói não é o participante do BBB, nem esse ou aquele cantor, tampouco um jogador de futebol. Podem ser craques, estrelas, feras na bola, mas pra ser herói é preciso um pouco mais, é preciso doação, sem esperar nada em troca, é preciso coragem e, acima de tudo, solidariedade.
Esse ano de 2020 foi de crise, de dificuldades pra muita gente, um ano de dor pra muitas famílias; mas também um ano de resistência, que serviu pra desmascarar muita gente pequena.
Meu desejo pra 2021?
Que seja um ano de esperança em dias melhores.
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