segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Quem imaginaria que 2020 seria assim? De aberrações, superações e maravilhosas atitudes diárias de heroísmo real.

 O texto a seguir é do meu filho, Sílvio, no face dele, em 31.dez.20:

  Quem imaginava que há doze meses, numa cidade inimaginável da China, Wuhan, surgiria um novo tipo de gripe, fora de controle, de difícil tratamento, que levou tantos milhares de vidas embora precocemente nesse ano; quem imaginava que isso se espalharia por todo o mundo? Que as capitais mais cobiçadas pelo turismo na Europa fechariam as portas a imigrantes, que as pessoas sucumbiriam sem que houvesse um tratamento eficaz contra o vírus? Provavelmente, quase ninguém. Me sinto pouco à vontade de escrever sobre as perdas, a dor das famílias que não sabiam se aquele parente, amigo ou amado retornaria do hospital.

 Nesse ano eu vi todo tipo de aberração, como um presidente ridicularizar a doença como uma gripezinha, que usar máscara era coisa de 'boiola' (sic!), que o brasileiro tinha que deixar de ser maricas. Vi o Brasil não iniciar os procedimentos para vacinação, ficando atrás de outros países latinos, como Argentina e México.

 Vi o absurdo de criarem desconfianças com essa ou aquela vacina, simplesmente porque foram criadas na China ou na Rússia, numa xenofobia direcionada a dois dos maiores parceiros econômicos do Brasil. Vi isso e muitas outras coisas que não deveriam existir num País democrático e nem em nenhum outro.

 Eu vi um homem negro ser assassinado por um policial americano, por asfixia, com o joelho no pescoço; e um brasileiro ser assassinado de forma parecida, por seguranças do Carrefour.

 Vi transformarem o auxílio emergencial numa crescente volta da inflação, desenfreada, no ponto mais crucial, que é a alimentação. Tudo mais caro, a cada ida no supermercado, o dinheiro valendo menos, já que sempre tem reajuste nos preços, quase semanalmente.

 Muita, mas muita coisa lamentável aconteceu em 2020.

Mas também vi surgirem heróis que sempre estiveram presentes e que nunca haviam sido reconhecidos. Vi médicos receberem o parabéns publicamente, nos prédios lotados de pessoas com medo de sair às ruas; vi, pela primeira vez, pessoas até então não valorizadas no sistema de saúde sendo reconhecidos como heróis, como os enfermeiros, técnicos, auxiliares e atendentes.

 Tenho o prazer e sorte de conviver com uma enfermeira há quase 15 anos e sei como foi árdua a luta, de como foi difícil de vê-la sair pra trabalhar durante o auge da pandemia, sem saber quando chegaria nossa vez de contrair o vírus, que nunca chegou em casa, com a Graça de Deus.

 Vi bancários trabalhando dez, doze horas por dia, também aos sábados, pra dar conta das filas, se arriscando a contrair o vírus, mas com determinação e coragem. Com compromisso não apenas aos seus empregos, mas com a população mais necessitada. Porque é na crise que surgem os verdadeiros heróis. Talvez agora o brasileiro compreenda que herói não é o participante do BBB, nem esse ou aquele cantor, tampouco um jogador de futebol. Podem ser craques, estrelas, feras na bola, mas pra ser herói é preciso um pouco mais, é preciso doação, sem esperar nada em troca, é preciso coragem e, acima de tudo, solidariedade.

 Esse ano de 2020 foi de crise, de dificuldades pra muita gente, um ano de dor pra muitas famílias; mas também um ano de resistência, que serviu pra desmascarar muita gente pequena.

 Meu desejo pra 2021?

Que seja um ano de esperança em dias melhores.


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