sexta-feira, 12 de abril de 2013

Eu também quero falar: Margareth Thatcher e as mulheres. E cadê a mulher de verdade na tv?

Dois ótimos artigos sobre mulher, escrito por combativas mulheres do movimento sindical cutista. 
Deise Recoaro é bancária e secretária de Mulheres da ContrafCUT, a Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do ramo Financeiro. E Rosane Bertotti é agricultora familiar e secretária de Comunicação da CUT Naciona, coordenadora do Fórum nacional pela Democratização de Comunicação.

Depois, blogo sobre o VI Encontro Nacional de comunicação da CUT. Mas pode ir vendo muito do encontro aqui.

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Artigo de Deise Recoaro: Margareth Thatcher e as mulheres


Margareth Thatcher era mulher? Sim, com certeza. Sofria discriminação por isto? Provavelmente no meio em que ela vivia teve que enfrentar o preconceito. É uma referência para as mulheres do mundo? Não, isto não. Pode até ser para um grupo muito seleto de mulheres, mas para grande maioria ela prestou um desserviço.

A Dama de Ferro levou este apelido não foi por acaso. Ela virou símbolo do neoliberalismo no mundo, uma das políticas mais perversas para classe trabalhadora e em especial para as mulheres. Pois toda política de redução do Estado, de privatizações, de cortes nos gastos públicos e de ataques aos direitos sindicais recaem com mais intensidade sobre as mulheres, porque somos nós as principais usuárias e dependentes destes serviços e direitos.

Felizmente, temos outros exemplos de mulheres à frente de nações que fizeram e fazem a diferença. Que elevaram a nossa autoestima, que mudaram a vida de muitas trabalhadoras onde atuaram e atuam e que nos enchem de orgulho. Refiro-me especialmente à Michelle Bachelet e à Dilma Rousseff.

As mulheres, sem sombra de dúvida, são as principais interessadas e serão as mais beneficiadas com as mudanças e, por que não dizer, com a revolução social e política no mundo. Devemos ser as principais defensoras da democracia e do socialismo, para inverter a lógica selvagem da relação de exploração do trabalho e de mercantilização da vida.

Portanto, não basta ser mulher para estar nos postos e cargos de mando. Precisamos de mulheres comprometidas com a classe trabalhadora. Comprometidas com a luta histórica de superação das desigualdades, do combate à violência e por mais participação nos espaços políticos.
Deise Recoaro
Secretária de Mulheres da Contraf-CUT

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09/03/2012

Artigo de Rosane Bertotti: Mulher, luta e coragem de ser feliz

  
Crédito: CUT
CUTNasci do sexo feminino, mas me tornei de fato mulher quando percebi que meu desejo por um mundo melhor me fez descobrir o valor de reconhecer-se mulher em uma sociedade capitalista e gerada pelas regras do patriarcado. É preciso coragem para isso; para lutar contra valores subjetivos impostos em nossa sociedade; coragem para organizar a luta e ainda continuar com coragem para dizer em alto e bom som: sem medo de ser mulher, sem medo de ser feliz!

Ao longo da história da humanidade a sociedade tem se submetido aos princípios hegemônicos do capitalismo e do patriarcado. Em nossa luta por liberdade e igualdade, temos em nosso caminho uma inimiga atroz, a velha mídia, comandada por um pequeno grupo de pessoas que, na defesa dos interesses capitalistas das elites conservadoras continua a impor à sociedade seus valores discriminatórios, condicionando-a a perpetuar preconceitos arraigados durante séculos, de forma exponencial.

As produções da velha mídia se utilizam de todos os artifícios possíveis para fazer com que seus interesses comerciais e políticos prevaleçam: manipulação, mentiras, violência, desrespeito aos direitos humanos e reiteradas vezes, o desrespeito ao direito de ser mulher e de ser feliz.

Cotidianamente somos submetidas a inúmeros tipos de violência que nos perseguem desde os tempos mais remotos. Aristóteles, por exemplo, nos definia como um macho mutilado; Kant descrevia a mulher como pouco dotada intelectualmente e moralmente fraca.

Nos dias de hoje, a combinação sociedade de consumo e televisão é a principal responsável em tentar nos aniquilar, utilizando-se de um poderoso artifício: a sedução. A propaganda publicitária desde o seu surgimento mostra a mulher como produto de consumo, como parte integrante de um produto à venda, ou ainda, mostra o que a mulher deve fazer para transformar-se em um produto de consumo. 

No maravilhoso mundo da propaganda, a mulher é refletida a partir de estereótipos - como fúteis, submissas, pouco inteligentes, objeto sexual etc. Por isso na maioria das vezes aparece nos meios de forma voluptuosa, semi-nua (ou nua), ou então limpando a casa e cuidando dos filhos sozinha.

A televisão, que ainda detém a maior influência na população, nos impõe diariamente um único "padrão" de mulher - o idealizado no imaginário criado pela subjetividade, ignorando a diversidade racial e cultural de nosso país. Utilizando-se do erotismo e da violência, as grades de programação estão repletas de conteúdos que banalizam e culpabilizam a mulher, que mostram a fragilidade e a submissão como coisas naturais. Onde estão as mulheres de verdade na televisão?

É por isso e muito mais que a democratização dos meios de comunicação é urgente e nossa participação na construção de políticas públicas para o setor é fundamental. Reafirmamos o direito à comunicação como princípio e por isso lutamos pela construção de um novo marco regulatório para as comunicações, que respeite a pluralidade, a diversidade e que tenha controle social. Esse será apenas o início do processo de conquista da verdadeira democracia e liberdade de expressão.

No meu sonho por um mundo melhor figura o respeito, com mulheres e homens convivendo em igualdade de gêneros - na vida, no trabalho, nos espaços de poder e em todo o lugar. Mas, para poder cantar alto e em bom som o direito de ser mulher e de ser feliz, durante a vigília também é preciso lutar por novo marco regulatório. 

Nesta luta temos que ter o entendimento de que a comunicação é uma política pública e que as concessões de rádio e TV são um bem público e, portanto, é preciso ter mecanismos de controle social para sua garantia - para que a imagem da mulher e de outros atores sociais não seja mais deturpada, caluniada, desrespeitada, explorada, violentada, descaracterizada e até mesmo caricaturada.

Na vida real eu sonho e canto alto, porque ser mulher me deu coragem de não ter medo de ser feliz. E é por isso que continuo a lutar. 

Viva o 8 de março, viva a luta das mulheres de todo o mundo!

Rosane Bertotti
Secretária nacional de Comunicação da CUT
 

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