terça-feira, 27 de março de 2007 16 comentários

NÃO TOQUE EM MEU COMPANHEIRO

Não sei se é pelos primórdios do petismo, mas como eu gosto da palavra companheiro. 
Companheiro, aquele que compartilha o pão, 
que passa o sufoco junto,  
que ajuda a construir pontes, 
que é silêncio e colchão de carinho quando o mundo fica de ponta cabeça,
que chora quando a gente está triste e gargalha quando obtemos uma vitória que pode até ser gita, mas que o ali junto logo eleva à condição de gigante.
O que compartilha as dores e os amores.

Tenho companheiros e companheiras assim e em muitas arquibancadas, mesmo naquelas em que não posso agitar minhas bandeiras. Não são muitos, mas parece uma legião, tamanha é a força, unidade, carinho e atitude quando compartilham comigo o pão.


O pão da vez é a ditadura que se instalou na empresa em que trabalho e que acabou me atingindo em cheio dia 23 de março de 2007, por injunções da política mais rasteira. Assim, sem que nem por quê. Até porque ditadura por ser golpe, não se dá ao trabalho de dar explicação. Apenas executa, com o tom sombrio da arbitrariedade. Sou descomissionada de uma função que conquistei com décadas de trabalho e por movimentos das trevas, das sombras e sem me dar a menor chance de defesa e isso após eu ter enfrentado um 2006 de travessia do Rubicão na minha saúde. Égua!


A força da solidariedade -A dor que enfrento hoje e a força da solidariedade me faz recordar um episódio da época do governo Collor, em 1991.


Em 27 de setembro de 1991, no período do governo Collor, a Caixa Econômica Federal demitiu 110 colegas que fizeram 21 dias de uma grande greve. A ordem da demissão coletiva partiu do então presidente da Caixa, Álvaro Mendonça. 

Diante do brutal ataque ao emprego e à vida de 110 colegas e suas famílias, a Fenae - Federação nacional das associações do Pessoal da Caixa, Apcefs e sindicatos fizeram um cordão solidário contra o ato antissindical e  desumano, na minha opinião uma das mais belas campanhas do movimento sindical bancário e que expressou a solidariedade numa tocante campanha que dizia "Não toque em meu companheiro!". O companheiro era simbolizado por uma flor despedaçada no caule e que mão cuidadosa protegia para amparar e manter em pé a flor já brutalmente agredida. Não tenho mais essa imagem, mas vou buscá-la junto à Fenae e quando tiver, publico aqui.

Os 110 colegas foram reintegrados em 4 de outubro de 1992 (Collor fora impichimado em 29 de setembro de 1992) e no longo ano em que ficaram sem salários, tiveram o sustento assegurado pela solidariedade de 35 mil bancários da Caixa que depositavam todo dia 20 de cada mês 0,3% de seus salário num fundo solidário que manteve o longo inverno de 1 ano sem salário. O companheiro Jair Pedro Ferreira foi um  desses 110 colegas.

Após a reintegração, os 110 bancários tiveram os 21 dias da greve de 1991 descontados em 5 parcelas, mas isso ficou pequeno diante da imensa e maravilhosa vitória de criar e manter solidariedade e esperança na luta e nos companheiros.

A imagem, o símbolo daquela mão que acolheu com ternura e firmeza a flor cortada e com todo cuidado impediu que se despedaçasse, ficou gravada na memória da minha pele. Para sempre.

Então, quando leio, vejo, passo ou pressinto injustiças, me vem à mente aquela flor cortada, mas acolhida pela generosidade. A mesma que me sustenta neste difícil, doído momento em que, mais uma vez, ajudada por companheiros estou pulando uma grande, imensa fogueira.

Um dia conto com detalhes esta fogueira e as trevas que a precederam.
segunda-feira, 19 de março de 2007 2 comentários

PEDACINHO DE DEUS...

O segundo dia de fevereiro acordou assim com uma manhãzinha manhosa, chuvosa gemendo ócio, feriado, cama, aconchego macio, quarto quentinho e colo de mãe. Acordou espreguiçando os olhos.
A manhã deliciosamente nublada foi remexer os baús e me lembrou uma conversa que tive um dia desses com Binho, o filhote do meio. Amado que só ele.Meio sol, meio lua, agridoce como um tempero de sushi, de frango xadrez, manga com arroz integral.Combinação assim que encanta pra sempre.Quando lembrada, enche o céu da boca de água, mas exige garimpagem na descoberta e precisa ser saboreada de pouquinho e com o freguês certo que terá que tourear os dias de açúcar e os nem tanto.
Pois numa conversa dessas que só tem começo, Binho me falava da diferença entre homens e mulheres. Dos homens não me lembro direitinho de como ele enquadrava a espécie, só sei não era lá muito agradável pro gênero masculino. O que ficou na memória da minha pele e no chip de todas as minhas gerações foi a declaração sobre as mulheres, que eu já quero incluir no dia 8 de Março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher.
A mulher, mama?, indagava-respondendo ele, enquanto driblava o trânsito enlouquecido de Belém. A mulher é um pedaço de Deus na terra.
Olhei pra ele com o rabo do olho, sorri com a alma e guardei o dito. No coração.
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A INCLUSÃO TEM NOME...

Amiga do peito é aquela que o certificado de garantia nunca vence. Acho que foi ou mais ou menos isso que eu disse pra mana Zildinha há décadas, tempo de outras histórias, sempre com muita vida, muito giro, muito movimento.Sentimento sentido noutra época, lá atrás, e que caminha íntegro até hoje.
Bom sentir isso, melhor constatar a qualidade desse sentir.
Ficamos juntas sempre? Não. Todos os sufocos foram passados juntos? Também não.
Os risos foram compartilhados sempre? Não. Mas ele, o carinho, sempre cuidou dos desencontros pra que nada se perdesse na hora de reencontros. E a cumplicidade é sempre atualizada pelos encantamentos dos vários saberes, quereres.
A roda do tempo girando, amores indo e vindo, uns mais indo que vindo, tempos de ursa, tempos de praça e forró, tempos de estio. Ali, no lastro, o carinho, seringueira gigante a abrigar passarinho de todo tipo, criando ninhos, fazendo laços.
No dia-a-dia, o carinho-bússola sempre ali, com aconchego, riso alto, comidinha gostosa,choros e birinaite, que ninguém é de ferro. Na aparência, uma festa só. Pra comemorar a vitória da vizinha-povo,pros 30 dias de reviravolta sem sobressalto, de alguém que passou em qualquer coisa, pra abertura ao público do armário-Cecília--finalmente-pronto, pela camona comprada, pro quarto branco-Isolda,a viagem indiana da curumin, a lua cheia no sítio de Pepê, as carnes na mana Tyson,a despedida de Sandra e Jaquinho, a comemoração de Irezita, pro subir e descer das águas na beira do rio, pro dedinho-lambança de Tintim e risada de Marcita. Quem olhar de fora vai ver festa, riso, sarro, brincadeiras. E tem festa, mas é só pretexto pra juntar gente. Gente que ri, que brinca, que chora, leve, ousada,quieta, de todas as tribos e até sem-tribo. Única exigência: o selo do afeto, que se desdobra em solidariedade, sempre perspassado de ternura. Com jeito de descuido, mas ninguém se engane, porque até esse relaxamento tem o carimbinho do gostar e tá sempre acompanhado de um delicado olhar que passeia incluindo, sorrindo.
E é nessa roda de simplicidade e carinho que vai se dando a mais doce e firme maneira de inclusão nesses mais de 17 anos que tenho nesta vida. A inclusão-Zildinha, com jeito e cheiro de amor.
É sobre e pra ela este escrito em 6 de fevereiro, em que Belém amanheceu nublada e se assanhando até pra um friozinho. Eita cidade querida, eita mana querida. Uma,a cara da outra. Quanto a gente conhece, mais gosta.
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2007 vem se requebrando

7 de janeiro, primeiro domingo de 2007, um ano que chega faceiro, se requebrando, cheio das lambanças, das esperanças. Hum hum, um ano bom. Tomo suco verde, converso com Pai do Céu, volteio pela net e resolvo ir bater o ponto na Praça da República.Domingo, dia de feirinha, de cantorias e de encontros. Mas praça sem Gigi não dá, aí eu chamo minha irmã-cúmplice-camarada, pego Magé pelo braço, amigão do samba e do cotidiano e lá vamos nós. De Pedreira Nazaré, busão sufocante todos os dias, menos aos domingos.
Domingo, o Pedreira Nazaré vai quase vazio e voa na Pedro Miranda. Quando alguém faz sinal ou puxa a cordinha, ele pára aos solavancos.Num desses, entra o primeiro amigo de Magé e convida pra reunião do samba e da gelada no acadêmicos da Pedreira. Como todo bom malandro ele abre o sorrisão e diz que vai. Depois outro entra e convida pro Bole-Bole e ele diz de novo que vai. Um terceiro convida pro Quem São Eles. O busão já entra na Alcindo Cacela, rumo à Praça. Magé tá parece político, distribuindo promessas. Descemos na Praça,ele todo solícito, conversador. Me descuido um instantinho e ele some parecidinho salário de bancário ou servidor público. Vai ao encontro das melodias, de muitos sambas. Só chegará em casa à noite, com as cantorias escorrendo pelos dedos e as lembranças se grudando nele.
A praça fervilha de gente que vende, que compra, que mais olha do que compra, que berra o Evangelho, que lota a banca do Alvino. Todos andando sem atropelos, porque domingo é dia de mãe, de carrinhos de bebê, de respirar a praça, os amigos. De parar em cada banca, pegar as coisas, dizer que é bonito o trabalho e não levar nada. Passeiam os pés, passeia o corpo, passeiam os olhos.
Nesse vaivém, lá pelas tantas topo com um povo das antigas, uma mulherada boa de briga. Caminhando lentamente, com um jeito bom de caminhar, o de quem espera o que é bom. Noutra quebrada encontro recém-secretários de Estado sorridentes, muito à vontade, com o selo da esperança-desafio na testa, na pele, no olhar. Conversas vão se cruzando, abraços de boa sorte vão sendo dados. É uma hora sem avaliação; no máximo, alguns diagnósticos, primeiras impressões e muitos desejos de que tudo corra bem. Só maré boa.
Chega a hora da bóia. De parar em algum canto,na Estação de preferência, comer uma coisinha, olhar o rio, bonito, cheião, falar, ouvir, serenar.
Eita domingo bom, sereno, cheio de mamolejo, preguiçooooso, gostoooso. Tá indo embora, mas com cara de retorno, embora não prometa nada. Talvez por ser o primeiro de um ano que o coração da gente, um danado de otimista,teimoso, exige que seja pra lá de melhor.
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O sonho de papai

Papai é um homem da alegria, do bom humor. Tem 83, quase 84 anos, mas é todo sajica, durinho, conversador. Adora andar de ônibus de Bragança pra Belém e nesta Belém de meu Deus, então.. Como roda até a hora do almoço, quando faz a parada básica e antes da chuva lá vai ele, descobrindo os roteiros dos ônibus. Vai ver o rio todo dia, ele que pescou tanto, peixes, idéias, gentes, sentimentos. Volta na hora da janta e vai decobrindo panela. Com uma fominha de casa, de família, mas a alegria grudada nos olhos que já viram milhões de cenas. E sempre contando histórias alegres.
Hoje ele acordou mais alegre. Sonhou com um milharal cheio de milho e o sol batendo no milharal. Me disse que é sinal de alegria, prosperidade, tempo bom.
Tomara, veinho, tomara. Como diz uma amiga-irmã, esse milho vem bem a calhar.
Te amo, paizinho!
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SONHOS..

Enquanto a gente dorme,
eles caminham.
Se perdem,
se acham
e quando nossas naves estão pra se abrir
eles aparecem.
Inteiros, ou aos pedaços,
cara de gente.
E antes que o dia entre, eles se instalam
a encher nossas cabeças
de caraminholas.
São trovadores anônimos de outras épocas
que cantam esperança nas vidas
ou temperam com sal as nossas feridas,
os nossos ardumes.
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2007 tá na área...

2006 está chegando ao fim. Um ano que, para mim, trouxe a sombra, o desvão, o limbo, o não-estar. E o aprendizado. Na verdade, um reaprendizado que se traduz em dar valor ao que tem valor mesmo. Ano em que o carinho d@s amig@s esteve estendido pra que eu não me machucasse, pra que tateasse sem ir ao chão.
Alguns amigos estiveram bem perto; outros, nem tanto, mas todos se alegraram muito quando emergi e consegui rir, sorrir, gargalhar, viver. Quando fixei os olhos em um ponto olhando pra esse ponto; quando estiquei os dedos e voltei a tocar e pegar com as próprias mãos; quando andei com os pés, quando dobrei os joelhos sem sentir dor; quando o corpo, já magrinho, voltou a se encher, pouco a pouco e o paladar estalou de alegria diante dos cheiros e sabores. Quando rezar voltou a significar encontro com Deus. Quando, enfim, voltei a perceber sentido na vida.
2006, que agora se vai, foi um ano-mestre. Deixa em mim a memória da pele do conhecimento, de amor, de dor. E da alegria dos reencontros.
Só me resta agradecer. A cada um, a cada uma. Aos que cantaram, aos que choraram, aos que oraram, aos que estiveram mais perto ou mais longe, aos que estão e aos que são.
Com muito, muito amor e torcendo para que estejamos juntos em 2007, 2008, 2009....... Com o entranhamento do amor, do respeito, da solidariedade.
Beijos,
Veruskaya
 
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