sábado, 23 de julho de 2011

Chico Buarque é brasileiro. Que bom!


Aos 67 anos, Chico Buarque de Hollanda lança disco novo e mostra que ainda tem fôlego para encantar corações e mentes. Texto do compositor e jornalista Edir Gaya, publicado em O Liberal/ Magazine deste sábado 23 de julho de 2011.

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O tema do disco é o amor, mais precisamente a ressurreição deste sentimento na velhice, quando o inimigo te espreita, em tocaia, com um porrete na mão, a “mó” te quebrar, como Chico Canta em “Querido Diário”, a música destratada pela crítica logo no nascedouro.


O amor que ressurge em meio à comoção dos conhecidos com o homem solitário, Prometeu urbano que recolhe como um cão que lhe come aos pedaços, tudo isso em meio a uma cidade onde impera a contramão e o estardalhaço.


O amor que ressurge no exato momento em que o sujeito pensa em religião e (aí em fazer finalmente o sacrifício) de sublimá-lo e adorar uma estátua, uma santa, amar uma mulher “sem orifício” – persona feminina na qual só se penetra metafisicamente.


E exatamente quando ressurge o amor real, o físico, aquele que reclama o corpo, o sexo, a mulher na qual não se bate nem com uma flor, mas que, se chora, “desejo me inflama”, como Chico canta sem falso pudor, é que o tempo está lá, com o porrete na mão. E aí, resta ao poeta a resistência da palavra: “mas eu não quebro porque sou macio, viu”.


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Em “Tipo um Baião”, o amor que surpreende volta à cena e Chico pergunta ao tempo: “Não sei para que outra história de amor a essa hora?” e dialoga com uma menina, como deixa evidente a profusão da locução “tipo a fim”, “tipo para a vida inteira”, numa canção que oscila entre a bossa e o baião, enquanto o amor fugidio se revela no crepitar da fogueira e brinca de inflar e esmagar o coração dele, como o fole da sanfona de Luís Gonzaga.


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Em “Barafunda”, o tempo e seus lapsos de memória – e aqui o personagem do “Velho Chico” retorna – criam realidades paradoxais, aurélias, auroras, maristelas, na Penha, na Glória, gol de bicicleta ou tiro de meta, Zizinha ou Garrincha e uma Mangueira campeã com Cartola. 


O que é fato? O que é sonho? O que é real? O que é imaginário?


No meio dessa “Barafunda”, o Chico execrado como mau poeta, responde, de pronto: “E salve este samba antes que o esquecimento baixe seu manto cinzento”.


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E para os que acreditam que ele demitiu o animal político, em meio à barafunda, canta o que ficará de fato na memória da pele do povo brasileiro: “É Garrincha, é Cartola, é Mandela”.


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Só muito complexo de viralatas ou ódio ao sucesso para considerar que um disco como este não tem nada a dizer à música brasileira deste início de século. Ao final do CD, fica a única constatação possível. Que bom: “Chico é brasileiro!”

Ouve aí uma faixa do novo cd:



Se Eu Soubesse (part Chico Buarque)

Thaís Gulin

Ah, se eu soubesse não andava na rua
Perigos não corria
Não tinha amigos, não bebia
Já não ria a toa
Não enfim, cruzar contigo jamais
Ah, se eu pudesse te diria na boa
Não sou mais uma das tais
Não ando com a cabeça na lua.
Nem cantarei 'eu te amo demais',
Casava com outro se fosse capaz
Mas acontece que eu saí por aí
E aí, larari larari larari larara
Ah, se eu soubesse nem olhava a lagoa
Não ia mais à praia
De noite não gingava a saia,
Não dormia nua
Pobre de mim, sonhar contigo, jamais
Ah, se eu pudesse não caía na tua
Conversa mole outra vez
Não dava mole a tua pessoa,
Te abandonava prostrado aos meus pés,
Fugia nos braços de um outro rapaz.
Mas acontece que eu sorri para ti
E aí larari larara lariri, lariri
Pom, pom, pom, ...
Ah, se eu soubesse nem olhava a lagoa
Não ia mais à praia
De noite não gingava a saia,
Não dormia nua
Pobre de mim, sonhar contigo, jamais
Ah, se eu pudesse não caía na tua
Conversa mole outra vez
Não dava mole a tua pessoa,
Te abandonava prostrado aos meus pés,
Fugia nos braços de um outro rapaz.
Mas acontece que eu sorri para ti
E aí larari larara lariri, lariri...

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