quinta-feira, 3 de maio de 2012

Não toque em minha companheira!

Belíssimo trabalho do Waldir Lisboa da Conceição e que decora o gabinete da vereadora  petista de Belém, Milene Lauande.  Compartilhado no feice pelo educador e blogueiro Luís Cavalcante. Uma linda homenagem às mulheres que vêm lutando na vida e na política.


Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, diz a canção. Tem dias que só a esperança, a fé na vida e na luta coletiva nos sustenta.

Enfrento um dia desses, após saber que ontem foi descomissionada uma companheira no Banpará, o banco  do povo paraense pelo qual lutei tanto e sempre para que permanecesse cada vez mais público e respeitando os direitos dos trabalhadores e do povo paraense.

A perda da comissão é um baque múltiplo. No orçamento significa uma perda de 60% ou mais da remuneração. Faz as contas e imagina o aperreio de ter um corte de 60% num orçamento de uma  família que já equilibra magicamente o orçamento de 100% e isso assim, sem qualquer preparação, da noite pro dia!

A outra e solitária pancada é na autoestima.Sem razão ou explicação, sai um comunicado destituindo o trabalhador e as conversas rolam de mesa em mesa. Fica como um ato de gestão. No caso, de péssima gestão,  pois a companheira – assim como tantos outros bancários descomissionados no Banpará – se qualificou para a função que ocupava, estudou, acumulou saberes, agora todos jogados ao vento.

Como a companheira em questão foi dirigente sindical, militante e com opinião formada, fica muito explícita a retaliação ao seu modo de pensar e de agir, de opinar. É a força do Estado esmagando os direitos de uma trabalhadora e não posso concordar ou conivir com esse autoritarismo.

Tenho náusea e horror a arbitrariedades, repulsa a seres e medidas autoritárias que roubam os sonhos e tentam esmagar a vida, a liberdade, a democracia.

Lamento e repudio profundamente que essa diretoria do Banpará aja como um trator sem freios por cima da humanidade e dos direitos dos trabalhadores.

Não percebe a atual diretoria do Banpará que governos vêm e vão e isso passa tão rápido. 

Que eles têm uma chance de resgatar direitos, de restituir a cidadania ou de entrarem para a história pela porta dos fundos, como massacradores de gente. E que tudo na vida tem retorno. Meu paizinho – que hoje comemora no céu seu aniversário sempre dizia: “Não tem mal que dure pra sempre”.

Vocês passarão, diretores e diretoras que estão hoje à frente do Banpará, a bom cometer atrocidades.

Com muita convicção, resistirei sempre a desmandos. Um deles já me atingiu em cheio em 2007. Não quero e não aceitarei calada e sem lutar contra injustiças como a praticada contra minha companheira que só quis na vida seguir uma carreira no banco e ser feliz.

Deixo pra vocês um poema que me consola um pouco e um texto que escrevi neste blog em março de 2007, quando o mesmo ranço do autoritarismo me atingiu em cheio e só não despedaçou porque encontrei mãos amigas que me permitiram recompor o orçamento e a dignidade.

Força, minha companheira! Estamos juntas em mais essa luta!
                                                                        ***

Esperança
(Mário Quintana)


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...


***
E o texto que escrevi em 2007, atualíssimo:

NÃO TOQUE EM MEU COMPANHEIRO


Não sei se é pelos primórdios do petismo, mas como eu gosto da palavra companheiro. 


Aquele que compartilha o pão, o que passa o sufoco junto, o que ajuda a construir pontes, o que chora quando a gente está triste e gargalha quando obtemos uma vitória que pode até ser gita, mas que a gargalhada logo eleva à condição de gigante.O que compartilha as dores e os amores.


Tenho companheiros em muitas arquibancadas. Não são muitos, mas parece uma legião, tamanha é a força e unidade deles quando resolvem compartilhar o pão.


O pão da vez é a ditadura que se instalou na empresa em que trabalho e que acabou me atingindo em cheio dia 23 de março de 2007.Assim, sem que nem por quê. Até porque ditadura, como é golpe, não se dá ao trabalho de dar explicação. Apenas executa, com o tom sombrio da arbitrariedade.


Lembro que a Caixa Econômica, em tempos passados, fez uma onda braba contra bancários que acabaram sendo demitidos. 


A Fenae - Federação das Associações de Pessoal da Caixa, se colocou ao lado dos funcionários demitidos e na peça de resistência lançou uma linda mensagem assim: Não toque em meu companheiro. O companheiro era simbolizado por uma flor despedaçada no caule e que mão cuidadosa protegia para amparar e manter em pé a flor já brutalmente agredida.


A campanha foi vitoriosa, os bancários foram reintegrados e aquela flor acolhida com a ternura do coração ficou gravada na memória da minha pele. Para sempre.


Então, quando leio, vejo ou pressinto injustiças, me vem à mente aquela flor cortada, mas acolhida pela generosidade. A mesma que me sustenta neste difícil momento em que, mais uma vez, ajudada por companheiros, estou pulando uma grande fogueira.

4 comentários:

Guilherme Marssena disse...

É por ainda existirem seres como tu,ainda que bastante reduzido hoje, é que ainda não me aposentei das LUTAS.SÊ FELIZ SMPRE GURREIRA VERA PAOLONI.

Florentino disse...

Egua muito bacana, muito atual. Pra mim a mensagem que fica é que como esse nosso mundo gira! Graças...

Anônimo disse...

é, Vera,
infelizmente isso é uma luta incessante.

Sem dúvida é uma das maiores causas de adoecimento, pois não é só o fato consumado, fico a imaginar como será o dia a dia, a convivência com esse tipo de gente, que prima por "instituir" um ambiente extremamente hostil; de cobranças abusivas; tornando um inferno um ambiente que poderia ser prazeroso.

Que Jesus esteja com a companheira Jô e que pessoas como você estejam a confortá-la.

Que ela seja otimista e encare como algo passageiro. A frase do seu pai sintetiza tudo.

"Tudo passará... e outros ventos virão"

Um abraço,

Josenildo

Anônimo disse...

O quadro de arbitrariedade da diretoria do Banpará não pode ficar sem uma posição firme contrária das entidades representativas dos trabalhadores. Vamos juntar forças nessa luta.

Pelo que percebo já é o prenúncio da grande luta que vamos travar na campanha salarial deste ano no Banpará.

Minha solidariedade à companheira Jô e aos demais atingidos na sua dignidade. O efeito é de tirar a pessoa do eixo.

Serginho

 
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